O Café em Ascensão: Entendendo o aumento dos preços e seus impactos


O café, uma das commodities mais importantes do Brasil e do mundo, tem experimentado uma valorização significativa nos últimos tempos, atingindo patamares históricos e preocupando consumidores e indústrias. Essa escalada de preços é resultado de uma complexa interação de fatores climáticos, econômicos e de mercado, que afetam diretamente a oferta e a demanda do grão.


Fatores Determinantes da Alta


Diversos elementos têm contribuído para o cenário atual de elevação dos preços do café, com destaque para:

  • Condições Climáticas Adversas: O Brasil, maior produtor mundial de café, enfrentou em 2024 a pior seca dos últimos 70 anos. Ondas de calor intensas afetaram o ciclo de produção entre 2023 e 2024, comprometendo a florada e a safra de 2025, que, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), será 12,4% menor que a do ano anterior. Outros grandes produtores, como o Vietnã (segundo maior produtor de café Robusta), também foram impactados por crises climáticas, com redução de 17,2% na produção, contribuindo para a queda global na oferta.
  • Queda na Produção Global e Estoques Baixos: Desde 2021, o consumo mundial de café tem superado a produção, resultando na queda dos estoques globais pela metade do que havia em 2020. Essa escassez hídrica, somada aos problemas climáticos em outros países, leva a uma oferta restrita no mercado, o que naturalmente eleva os preços.
  • Aumento da Demanda Global: Apesar da diminuição da oferta, a demanda por café continua crescendo. Desde 2020, o consumo mundial subiu 4%, impulsionado especialmente pela China, onde a bebida tem ganhado status de produto moderno.
  • Recorde de Exportações Brasileiras: Em 2024, o Brasil bateu recorde de exportações, atingindo a marca de 50,4 milhões de sacas de café exportadas, um crescimento de 28,8% em relação ao ano anterior. Esse volume expressivo de vendas para o exterior, embora benéfico para a balança comercial, intensifica a alta dos preços para os consumidores internos, pois diminui a oferta disponível no mercado nacional.
  • Impacto do Dólar: O café é negociado internacionalmente em dólar. A valorização da moeda americana, que subiu cerca de 27% em 2024, pressiona os custos para os consumidores brasileiros, tornando o produto mais caro no mercado interno.
  • Custos de Produção e Logística: O aumento nos preços de insumos como fertilizantes, energia e mão de obra, além dos custos de transporte e logística impactados pela alta do petróleo, também contribuem para o encarecimento do café.
    Impactos na Economia Brasileira
    O café é um dos pilares da economia brasileira, gerando um Valor Bruto da Produção (VBP) de R$ 116 bilhões e protagonizando um avanço de 46% em um ano. A alta nos preços, se por um lado beneficia os produtores que conseguem escoar sua produção a valores mais elevados, por outro, gera preocupação na indústria e nos consumidores.
  • Produtores: A valorização do café pode representar uma oportunidade para os cafeicultores, permitindo maior rentabilidade e investimento em suas propriedades. No entanto, o mau planejamento financeiro e a falta de estratégias de proteção (como travas de preços e hedge) podem levar o produtor a vender na baixa em momentos de flutuação, mesmo em anos de preços médios elevados.
  • Indústria: As indústrias de café têm repassado o aumento dos custos para o consumidor final. Há margem para maiores reajustes, já que a valorização da saca do café Arábica e Robusta tem sido superior aos reajustes feitos pela indústria em 2024.
  • Consumidores: O aumento do preço do café na prateleira impacta diretamente o bolso do consumidor. Dicas para mitigar o gasto incluem buscar marcas alternativas, aproveitar promoções, considerar a compra de café a granel e explorar métodos de preparo que maximizem o rendimento.
  • Inflação: O café, por ser um item essencial na cesta básica, tem contribuído para a pressão inflacionária dos alimentos.

Previsões e Perspectivas


As expectativas para 2025 indicam que os valores do café devem permanecer elevados, pelo menos até a colheita da nova safra, prevista para abril ou maio. Analistas de mercado apontam que os efeitos climáticos continuarão a afetar a fenologia do cafeeiro, com antecipação ou atraso da florada. O uso da irrigação será essencial para a mitigação dos impactos das mudanças climáticas.


Embora haja uma pesquisa que aponte uma queda de 30% nos preços do café Arábica até o final de 2025, essa projeção depende de condições climáticas favoráveis para a recuperação da produção. O cenário de estoques globais baixos e demanda aquecida sugere que a volatilidade e os preços elevados podem persistir no curto e médio prazo.


Em suma, o aumento do preço do café é um reflexo de um desequilíbrio entre oferta e demanda, intensificado por fenômenos climáticos extremos. Acompanhar a evolução desses fatores e adotar estratégias de adaptação será fundamental para todos os elos da cadeia produtiva e de consumo do café nos próximos anos.