O Governo do Estado da Bahia e a Concessionária Ponte Salvador-Ilha de Itaparica apresentaram, nesta sexta-feira (4), os resultados da extensa sondagem geotécnica realizada na Baía de Todos-os-Santos (BTS) ao longo dos últimos 12 meses.
Concluída nesta semana, a investigação detalhada do solo, que atingiu a profundidade inédita de 200 metros, fornecerá informações cruciais para a construção da tão aguardada ponte.
A apresentação dos dados foi feita à comunidade acadêmica especializada.
A sondagem, considerada a mais profunda já realizada no Brasil para coleta de material intacto, percorreu todo o traçado da futura ponte. Iniciada em terra firme, em Vera Cruz, a investigação avançou para águas rasas e, finalmente, alcançou o canal central da baía, com 67 metros de profundidade. No total, foram executados 105 furos, com amostras coletadas em alguns pontos a impressionantes 200 metros de profundidade – o equivalente a duas vezes e meia a altura do Elevador Lacerda. Um laboratório de tecnologia avançada foi instalado no canteiro de apoio para analisar as amostras.
Os resultados da análise revelaram diferentes composições do solo ao longo do percurso da ponte. No sentido Ilha de Itaparica-Salvador, foram identificados dois quilômetros de material mais jovem, com uma fina camada sedimentar seguida por rocha de boa qualidade. Nos trechos seguintes, a sondagem apontou para uma longa camada de material sedimentar sobreposta por rocha de baixa resistência intercalada com finas camadas de material resistente. Essa variação reflete a dinâmica do mar e a história geológica da BTS, com idades distintas nos trechos próximos à Ilha de Itaparica (66 milhões de anos) e a Salvador (241 milhões de anos).
Claudio Villas Boas, CEO da Concessionária, enfatizou a tecnologia utilizada para garantir a qualidade das amostras. “Usamos equipamentos que vieram da China, com tecnologias que a gente não tem no Brasil e que possibilitaram uma estabilidade maior no processo de coleta das amostras, sem alteração. Com isso, garantimos segurança e um projeto de engenharia preciso para construir a melhor ponte para os baianos”, detalhou.
Mateus Dias, superintendente de planejamento e logística da Seinfra e coordenador do projeto, destacou que a sondagem proporcionou um “retrato detalhado das profundezas da BTS”. A operação envolveu três balsas, uma plataforma de perfuração e um sistema avançado de compensação de ondas importado da China, garantindo a precisão dos resultados mesmo em condições climáticas adversas. O projeto também gerou um impacto econômico local significativo, com a contratação de mais de 20 empresas baianas, a criação de 300 empregos diretos e um investimento total de R$ 200 milhões.
“A ponte vai ter um impacto gigantesco para o desenvolvimento da Região Metropolitana de Salvador como um todo, do Recôncavo, do Baixo Sul. E isso na atividade do turismo, no comércio, no setor imobiliário, de logística, que também é um setor muito importante para o Estado”, ressaltou Mateus Dias.
O evento de apresentação contou com a presença de representantes de importantes entidades acadêmicas, como o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (CREA-BA), a Universidade Federal da Bahia (UFBA), o Clube de Engenharia e o Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon).
Para a professora do departamento de geologia da UFBA, Ana Santana, os resultados da sondagem representam um avanço significativo para a ciência. “Em termos técnicos, dos aspectos dos sedimentos, dos números, dos desafios, todos estão de parabéns. É uma geologia desafiadora e está sendo muito bem amparada com estudos e com tecnologia. Quanto ao projeto em si, é encurtamento de distâncias, tem muitos impactos positivos para a Bahia e, obviamente, impactos que deverão ser analisados e mitigados”, analisou a professora.
Com a conclusão da etapa de sondagem, o próximo passo será a finalização do projeto de fundações da ponte pela Concessionária e a mobilização dos canteiros de obras, aproximando a concretização de um sonho antigo da população baiana.
