Paciente com câncer morre na Bahia após Planserv negar medicamento e descumprir ordem judicial

Maria Luiza Sacramento Perdiz, servidora pública estadual aposentada de 68 anos, faleceu no último dia 8 de maio após uma batalha contra o câncer e contra o Plano de Saúde dos Servidores Públicos Estaduais da Bahia (Planserv). O plano, alvo de críticas recorrentes por parte de seus beneficiários há pelo menos sete anos, negou o fornecimento do medicamento Avastin, essencial para o tratamento da paciente, mesmo após uma decisão judicial determinar o contrário.


A luta de Maria Luiza começou em 2024, com o diagnóstico de câncer de mama, que posteriormente evoluiu para metástase. Sua neta, Isabella Tainara Barreto, estudante de Ciências Econômicas na Ufba, relatou que um nódulo na mama, inicialmente considerado benigno por uma ginecologista, dobrou de tamanho. Exames subsequentes revelaram não apenas um, mas múltiplos nódulos, atingindo fígado, pulmão e coluna.


“Minha avó já tinha feito a biópsia do fígado, que o Planserv não cobria, no particular e viu que era realmente câncer”, detalhou Isabella. O plano inicial de remover os nódulos do fígado foi suspenso quando exames detectaram oito nódulos no órgão e mais dois na coluna, configurando metástase. O tratamento passou a ser quimioterapia e bloqueador hormonal.


Diante da agressividade do câncer no fígado, o oncologista prescreveu o medicamento Avastin. No entanto, ao solicitar a medicação ao Planserv, a família teve o pedido negado, embora outros medicamentos tenham sido liberados. “Nesse tempo, minha avó sentia dores extremamente insuportáveis”, narrou a neta, descrevendo a internação de quase duas semanas no Hospital Santa Izabel, onde Maria Luiza recebeu morfina e outros analgésicos para controlar a dor e tratar complicações renais.


Com a negativa do Planserv, o sobrinho de Maria Luiza, que é advogado, ingressou com uma ação judicial. A decisão favorável, proferida pela juíza Regianne Yuki Tiba Xavier, foi publicada em 24 de abril, determinando que o Planserv autorizasse e custeasse o Avastin em até dez dias úteis. O plano, contudo, solicitou a ampliação do prazo.


No dia 8 de maio, às 20h58, a juíza recusou o pedido de prorrogação do Planserv. Tragicamente, por volta das 21h do mesmo dia, Maria Luiza Sacramento Perdiz faleceu devido a um trombolismo pulmonar. “Ela havia começado o tratamento do câncer da mama uma semana antes e havia tomado uma droga para que os ossos não quebrassem. Só faltava o tratamento crucial que era o do fígado e nem a chance de morrer lutando o Planserv deu a ela”, lamentou Isabella.


Maria Luiza, que dedicou sua vida ao funcionalismo público, começando como faxineira em hospitais e ascendendo a técnica de enfermagem, era a provedora da família. Ela custeava os estudos da neta Isabella, a escola de outra neta e o plano de saúde da filha, todos dependentes de sua titularidade no Planserv. “Ela tinha orgulho de dizer que era funcionária do estado e que tinha o Planserv como plano de saúde, isso antes do sucateamento do plano”, recorda Isabella. “No fim, ela morreu em uma UPA em Abrantes, com teto mofado, chão sujo e poucos profissionais. E mesmo assim, lá, os profissionais fizeram de tudo para que ela sobrevivesse.”